Por: Edneide O'dwyer

O futebol é uma das grandes paixões brasileiras e alimenta as esperanças de muitos meninos e meninas que desejam ver suas vidas transformadas e que sonham em ser novos Ronaldos, Neymares, Messis, Baloteris. Basta caminhar pelas ruas e vielas das comunidades periféricas para encontrar grupos de crianças, com pés descalços tocando com leveza, habilidade e entusiasmo a famosa bola. O sorriso largo acompanha a intensa disputa e o corre-corre para alcançar o resultado final: o triunfo, a vitória, o gol!

O futebol que encanta, que desperta sonhos também serve de recurso pedagógico para muitos educadores que trabalham a vivência em grupo, a disciplina, a dedicação, o cuidado com o corpo. E é, ainda, uma das poucas estratégias de lazer para crianças e adolescentes das periferias.

O país, apaixonado pelo futebol, que investe milhões de reais na construção de estádios e que monta uma gigantesca estrutura para receber turistas e jogadores de todo o mundo é o mesmo que nega às crianças e adolescentes o acesso a uma educação básica de qualidade, que negligencia os cuidados com a saúde pública, que esconde por trás dos belos edifícios e modernos empreendimentos, os bolsões de miséria e abandono, cedendo espaço para a violência que se ocupa de estabelecer regras e limites para uma infância que cresce em meio ao tráfico de drogas.

O governo brasileiro ostenta o título de “sexta potência” da economia mundial e divulga a imagem de um país próspero, em franco desenvolvimento. Mas, boa parte da população continua vivendo do subemprego, passando fome e ocupando as ruas como pedintes.   As comunidades, abandonadas pelos poderes públicos, não possuem aéreas de lazer, as escolas públicas estão sucateadas, os esgotos ainda correm a “céu aberto”, as famílias ainda clamam por moradia digna.

As últimas manifestações que aconteceram no país demonstram a indignação do povo brasileiro com os milhões de reais investidos para montar a infraestrutura da Copa do Mundo, enquanto os problemas sociais suscitam a implementação de políticas públicas mais eficazes.  Os jovens foram às ruas numa demonstração da força da nova geração que deseja ser protagonista da sua vida. Uma geração que se empodera, exige diálogo e busca definir os rumos da sociedade. É nesta força que o  Conexão Vida/Progetto Agata Smeralda acredita e é com estes jovens que deseja seguir trabalhando, mesmo com todas as dificuldades. A esperança de que é possível transformar a sociedade e promover uma educação que privilegie o exercício da cidadania e incorpore valores como solidariedade, cooperação, respeito, diálogo e cultura de paz nutre o sentido do nosso trabalho.

O tema que sustentará o caminhar do  Conexão Vida em 2014 - “Adolescência: acolher, compreender, promover” - defende projetos de espaços educativos atentos aos seres humanos que buscam um sentido para sua existência. A proposta foi pensada para proporcionar ambientes de troca, sensibilização e descoberta do potencial formativo e criativo dos adolescentes. Essencialmente, propõe uma reflexão de que é possível pensar uma educação em que as dimensões biopsicossocial e espiritual sejam consideradas na construção do projeto de vida dos meninos e meninas deste país.

Numa nação rica em contradições, mas, também, em possibilidades, o maior prêmio para as gerações deverá ser o crescimento de crianças e adolescentes livres de todo tipo de negligência e violação de direitos. O Brasil poderá continuar sendo o país do futebol, da alegria, das festas populares, mas que seja, também, o país da educação, saúde, emprego, moradia, qualidade de vida, onde as crianças e adolescentes não percam o encanto com o brincar, não deixem de sonhar, continuem “esperança de todos os dias e promessa de humanidade”. Que a crença no ser humano prevaleça e, diariamente, possamos reafirmar o nosso compromisso com a vida e com a existência.